Bala de Prata
“Bala de Prata: sustentar a vida em derrocada” é uma série de pinturas de animais endêmicos da Mata Atlântica com adaptações anatômicas especulativas, desenvolvidas como hipóteses extremas de sobrevivência frente à crise ambiental. As mutações imaginadas - fruto de cirurgias plásticas, implantes tecnológicos e edição genética são propostas como resposta simbólica à aceleração das mudanças climáticas, que impõe um ritmo incompatível com a evolução natural das espécies.
O projeto se apoia em pesquisa de campo, com especialistas e moradores dos entornos dos habitats, e plataformas de inteligência artificial, que operam como “oráculos”: a partir de comandos dados pela artista, retornam conteúdos textuais e visuais relativos às alterações ambientais e fisiológicas de uma espécie em contexto futuro. As informações coletadas se convertem em imagens que mesclam fabulação e dados reais. A estética do projeto se aproxima dos bestiários medievais — manuscritos ilustrados que registravam criaturas simbólicas e míticas, muitas vezes associadas a presságios —, instaurando uma ponte entre passado (forma) e futuro (conteúdo). As imagem integram um "Mapa da Mutação", plataforma digital onde projeto de maneira cartográfica como será a Mata Atlântica em 100 anos.
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A intenção é provocar comoção e reflexão sobre o cenário catastrófico que se desenha, explicitado pelas modificações radicais de forma e função dos corpos representados.
Vivemos uma era em que o presente já se confunde com o futurismo — edição genética, vigilância algorítmica, alimentação sintética. Neste contexto, o trabalho se contrapõe à brutalidade do tempo maquínico por meio da delicadeza da execução manual, recriando uma paisagem simbólica entre o quimérico e o biotecnológico.
A série assume como norte as implicações éticas e filosóficas propostas por pensadores como Anna Tsing, Donna Haraway e Timothy Morton. Tsing propõe a colaboração multiespécies como forma de resiliência em ecologias precárias. Haraway convida à criação de vínculos conscientes com outras formas de vida — “fazer parentes” — como resposta ética à crise ecológica. Morton, com o conceito de “hiperobjetos”, aponta a urgência de novas formas de percepção diante de fenômenos como o aquecimento global. Esses autores inspiram o projeto a compor imagens que não apenas denunciam, mas também especulam alternativas simbióticas e radicais.